A FIRMEZA DO CARÁTER MORAL E ESPIRITUAL DE DANIEL
Então, Daniel foi introduzido à presença do rei. Falou o rei
e disse a Daniel: És tu aquele Daniel, dos cativos de Judá, que o rei, meu pai,
trouxe de Judá?" (Dn 5.13)
Quem foi Daniel?
No que sua vida e conduta são relevantes
como exemplo para a geração de líderes atual? São algumas questões que
tentaremos responder neste breve artigo.Daniel (Deus é meu juiz) foi
descendente da alta nobreza judaica (Dn 1.3; Josefo, Anti. 10.10,1). Foi levado
cativo para a Babilônia por Nabucodonosor em 605 a.C. juntamente com outros
jovens judeus com as mesmas qualidades.
O Livro de Daniel nos revela que apesar das condições
adversas, este grande servo de Deus conseguiu manter um padrão de conduta moral
e de vida espiritual, que nos serve de exemplo para uma conduta cristã em meio
a moderna Babilônia, caracterizada pela pluralidade religiosa, pelo relativismo
moral, e por um academicismo frívolo e conivente com estas questões.
A INFÂNCIA DE DANIEL: TEMPO DE LANÇAR AS BASES
Não temos detalhes sobre a infância de Daniel. Há fortes
evidências de que ela foi vivida em Jerusalém. Alguns historiadores afirmam que
por volta dos doze e dezesseis anos de idade, Daniel já se encontrava na
Babilônia. Apesar da falta de informações sobre a infância de Daniel, podemos
deduzir algumas coisas.
A EDUCAÇÃO DE DANIEL
Daniel, assim como toda criança judaica, teve como
referencial teórico educacional o Livro da Lei (Dt 6.1-9). As realizações, os
mandamentos e as promessas de Deus para o seu povo foram por ele conhecidas e
apropriadas. Sua base educacional foi a família. Não havia escolas judaicas
formais no tempo de Daniel. A educação se voltava para os aspectos práticos da
vida, levando em consideração a moral, a vida espiritual, a cultura e outros
aspectos sociais.
Nestes termos, a condição econômica e social da criança
pouco importava. Nobre ou não, todos deveriam ser educados por seus pais com o
mesmo amor, observando-se os mesmos princípios e fundamentos.
Como estamos cuidando da educação de nossos filhos? Como
pais ou responsáveis, estamos fazendo a nossa parte, promovendo sólidos
fundamentos morais e espirituais em nossos lares a partir do culto domésticos,
da leitura e do estudo da Palavra, ou como muitos, já terceirizamos para a
escola e para a igreja estas responsabilidades?
AS CONVICÇÕES DE DANIEL
Acredito que Daniel não apenas aprendeu com o que ouviu de
seus pais, mas, acima de tudo, pelo exemplo dos mesmos. Onde não existe o
exemplo, as palavras perdem a força. Algumas questões precisam ser
consideradas, e se encontram nas entrelinhas da narrativa histórica.
Imagine um jovem crente em plena adolescência, que aprendeu
que o seu Deus era o criador e sustentador de todas as coisas, e que elegeu
soberanamente sua nação como propriedade peculiar, vendo o templo de adoração a
este Deus sendo destruído, a cidade de Jerusalém assolada, e as propriedades de
sua família confiscadas. Uma verdadeira tragédia e calamidade que podem abalar
as estruturas de qualquer indivíduo, removendo-o em pouco tempo de sua fé para
um estado de revolta e incredulidade.
Mas isso não aconteceu com Daniel. As calamidades não se
tornaram maior do que as suas convicções. Daniel não conhecia apenas parte da
Lei do Senhor, dos Escritos e dos Profetas, ele sabia que a mesma Escritura que
prometia bênçãos para a nação por sua obediência, alertava para as maldições
face a desobediência e rebeldia do povo (Dt 28; 2 Cr 7.11-22; Jr 25.1-14).
Conhecia também as promessas de restauração, quando arrependido este povo se
voltasse para o Senhor (Jr 29.10-14; Dn 9.1-3); Dessa forma, submeteu-se a
vontade de Deus sem reclamar, sem maldizer, sem blasfemar.
Daniel foi levado prisioneiro para Babilônia deixando para
trás a sua terra, mas levando adiante a sua fé em Deus. As lembranças dos
tristes acontecimentos não lhe ofuscaram a visão de uma gloriosa restauração.
A JUVENTUDE DE DANIEL: TEMPO DE CONSOLIDAR AS CONVICÇÕES
O Livro de Daniel, em seus primeiros capítulos, registra os
desafios na vida de um jovem distante de sua terra, num ambiente hostil,
permissivo e violento, em situações concretas de riscos e enfrentamentos.
"Disse o rei a Aspenaz, chefe dos seus eunucos, que
trouxesse alguns dos filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres,
jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda a sabedoria,
doutos em ciência, versados no conhecimento e que fossem competentes para
assistirem no palácio do rei e lhes ensinasse a cultura e a língua dos caldeus.
Determinou-lhes o rei a ração diária, das finas iguarias da mesa real e do
vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, ao cabo dos
quais assistiriam diante do rei. Entre eles, se achavam, dos filhos de Judá,
Daniel, Hananias, Misael e Azarias." (Dn 1.3-6)
Com o propósito de buscar assistentes para as diversas
atividades em seu palácio, o rei promoveu um rígido processo seletivo, onde
juntamente com outros jovens, Daniel foi escolhido. Estou pesquisando e
buscando informações sobre a formação "em ciência", e sobre os
"conhecimentos" em que Daniel era versado, visto que Israel, na
época, não tinha tradição acadêmica. Como já mencionei na primeira parte deste
artigo, a educação entre os judeus era ministrada para a vida prática. Não
havia um conjunto de saberes científicos sistematizados, apropriados para a
formação intelectual do jovem hebreu.
O fato é que um dos primeiros grandes desafios do jovem
Daniel na Babilônia foi participar de um curso onde o aprendizado da cultura e
da língua dos caldeus faziam parte do currículo. Literatura, astrologia,
astronomia, noções de magia e adivinhação, agricultura, arquitetura, leis,
matemática e língua acádica, seriam algumas das disciplinas. Os estudos
científicos mesclavam-se com magia e adivinhação.
O quadro é muito parecido com o que enfrenta os nossos
jovens cristãos nas universidades e faculdades norteadas pelas ideias
pós-modernas, onde nestes espaços a ciência e as experiências místicas se
fundem, o espírito de "tolerância" e "pluralismo religioso"
dá o tom, a vida moral é relativizada e onde a felicidade é confundida e
reduzida ao mero prazer.
Percebo que o grande problema da atualidade é que muitos dos
nossos jovens, diferentes de Daniel, não estão preparados para lidar com este
ambiente hostil. A negligência com os estudos bíblicos informais e formais
(cultos de doutrinas, escola dominical, seminários, conferências, congressos
etc.) contribui para isso. Mas a culpa não está apenas nos jovens. O descaso
das famílias cristãs na formação moral e espiritual dos filhos, a falta de
qualidade dos estudos bíblicos informais e formais, associado à dificuldade de
uma leitura clara da realidade, da contextualização e aplicação dos princípios
cristãos por parte da liderança, acaba agravando o quadro. O envolvimento cada
vez maior dos pais e dos pastores com as coisas da igreja, em detrimento das
pessoas, deixa os jovens expostos aos ataques, e o pior, sem terem em quem
buscar ajuda e orientação.
O texto de Dn 1.8 nos diz que "Resolveu Daniel,
firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que
ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não
contaminar-se". Isto é muito bonito de ser lido e pregado, mas, esta firme
decisão de Daniel não é fruto do acaso. Há uma história, há investimentos
eternos, há experiências envolvidas que pesam e consolidam as convicções do
jovem Daniel.
A PROSPERIDADE DO JOVEM DANIEL
A prosperidade de Daniel, resultado de sua aplicação aos
estudos e da bênção de Deus sobre a sua vida (Dn 1.9, 17-21), não mudou o seu
caráter. Há ainda muitos jovens que querem a bênção de Deus, a prosperidade nos
estudos e nas realizações, mas não querem se aplicar, não investem em sua
formação e carreira. Apesar das dificuldades que ainda vivenciou (Dn 2.1-13),
Daniel via em cada situação a oportunidade de glorificar ao seu Deus, o que
naturalmente fazia com que continuasse crescendo e prosperando em terras
estranhas (Dn 2.46-48), além de ser canal de bênção para o crescimento e a
prosperidade de seus amigos, que também se encontravam devidamente qualificados
para os cargos e funções que ocupariam (Dn 2.49). Atualmente existem milhares
de vagas de emprego, que não são preenchidas por falta de mão-de-obra
qualificada.
Muitos jovens se esquecem de Deus quando alcançam o
"sucesso" acadêmico e profissional. Cuidado! Não se embriague, não se
entorpeça, não se iluda com as ofertas, com os prazeres e com o sistema
babilônico moderno. Continue temente a Deus. Consagre e mantenha dedicado a Ele
todo o teu ser, todo o teu saber, todo o teu fazer.
A MATURIDADE E A VELHICE DE DANIEL: TEMPO DE VIGIAR E DE
CONTINUAR CRESCENDO
Na vida moral e espiritual não basta começar bem, é preciso
terminar bem. Na medida em que o tempo passava, o agora maduro e velho Daniel
crescia em intimidade e experiências com Deus. Muitos, a partir dos 40 anos, e
proporcionalmente no avançar destes anos, dão uma certa "acomodada" e
descuidam-se um pouco da moralidade e da espiritualidade. Muitos homens e
mulheres de Deus, nesta fase da vida, caem e fracassam, causando grandes
prejuízos para si mesmos e para o Reino de Deus.
O DESEJO PELO PODER
Vários pesquisadores e escritores já afirmaram que nesta
fase da vida surge certo desejo e busca desenfreada pelo "poder". Não
foi o caso do maduro Daniel, cujo poder foi uma consequência natural do
patrimônio sapiencial, moral e espiritual que construiu ao longo dos anos, e
acima de tudo, dentro da vontade de Deus (Dn 5.29; Dn 6.28).
Nesta fome e sede de poder, características nesta fase da
vida, o patrimônio sapiencial, moral e espiritual desaba, na medida em que o
indivíduo, a todo o custo, tenta usurpar cargos, conquistar espaços e dominar
sobre pessoas, negociando a própria alma com Satanás, quebrando todos os
princípios éticos e morais, e passando por cima de todos que atravessam o seu
caminho.
O desejo de ir além das possibilidades, da legalidade e da
legitimidade no exercício do poder, o orgulho e a arrogância, derrubou Lúcifer e
continuará derrubando todos os que pensam e agem desta forma (Is 14.12-15; Ez
28.11-19).
FRUTOS, VISÕES E SONHOS PROFÉTICOS
Os capítulos 5 a 12, fazem parte de um período que se inicia
em aproximadamente 538 a.C, ou seja, quando Daniel já beirava os 70 anos de
idade. Nesta época, encontramos o velho Daniel em plena atividade, atuando e
prosperando nos negócios do reino (Dn 5.29; 6.1-3, 28), e melhor, mantendo uma
vida de regularidade nas orações (Dn 6.10) e na leitura das sagradas escrituras
(Dn 9.1-3).
O resultado desta vida devocional exemplar, foi que as
visões, as revelações e a unção profética lhe acompanharam até ao final de seus
dias (Dn 5.18-28; Dn 7.1ss; 8.1ss; 9.20ss; 10.1ss; 12.13).
Cumpre-se em Daniel o que diz a Bíblia:
"O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o
cedro no Líbano. Plantados na Casa do SENHOR, florescerão nos átrios do nosso
Deus. Na velhice darão ainda frutos, serão cheios de seiva e de verdor, para
anunciar que o SENHOR é reto. Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça."
(Sl 92.12-15)
Como crentes e líderes, assim como Daniel, mantenhamos o
padrão, o equilíbrio e o crescimento em todo o tempo, e em todas as áreas de
nossas vidas, para o louvor e a glória do nome do Senhor!
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