“Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei,
mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos
justificados pela fé de Cristo [...].” (Gl 2.16).
INTRODUÇÃO
Ao longo deste trimestre, estudaremos a Carta de Paulo aos
Gálatas. Escrita no primeiro século da nossa era, essa correspondência foi
enviada aos crentes da região da Galácia e buscou mostrar aos seus leitores a
importância da liberdade cristã e a suficiência do Evangelho. Eram homens e
mulheres que haviam sido alcançados pela pregação e o ensino da salvação
oferecida por Jesus, mas que, em algum momento, se deixaram levar por ensinos
diferentes dos que haviam recebido, e estavam se afastando do plano de Deus
para as suas vidas. Rever os ensinos do apóstolo nesta Carta pode nos fazer
refletir a respeito da importância de valorizar o sacrifício de Jesus e não nos
deixar levar por ensinos estranhos, que buscam colocar o esforço humano como um
substituto à graça de Deus.
I. A CARTA AOS GÁLATAS
1. O contexto. O Evangelho de Cristo se espalhou pelo
Império Romano quando judeus e estrangeiros ouviram a sua mensagem e receberam
Jesus em seus corações. Essa divulgação se deu pelo testemunho de irmãos judeus
que fugiram de Jerusalém por conta da perseguição, mas também se deu por conta
do trabalho específico de obreiros como Barnabé e Saulo, que foram enviados por
Deus, e pela igreja, às nações gentias como missionários. Essa fase inicial da
igreja é apresentada no livro de Atos dos Apóstolos. Mas a história da igreja
não se resume aos relatos de Lucas, que inspirado pelo Espírito Santo,
registrou os acontecimentos relativos às atividades missionárias. As cartas dos
apóstolos também trazem informações que nos mostram outros acontecimentos nesse
período.
Muitos gentios se tornaram cristãos, e com o aumento deles
entrando na igreja, crendo que a salvação prometida por Cristo vinha pela fé,
surgiu o que vamos chamar de “choque cultural”: um grupo de judeus, que também
tinha crido em Jesus, passou a ensinar que a Salvação dependia também da guarda
da Lei de Moisés. Jesus era judeu, e guardou a Lei, sujeitando-se a ela.
Portanto, todos os seus seguidores deveriam também passar pelo mesmo rito. Esse
grupo é denominado de judaizantes, e como veremos, deu trabalho por onde
passava, pois seu ensino, de forma praticamente imperceptível aos gálatas,
enfatizava o esforço humano como um auxiliar à graça de Deus.
2. O autor. Paulo é o autor da Carta aos Gálatas. Ele se
identifica como tal logo no primeiro versículo, não dando margem para que outra
pessoa possa ser apresentada como responsável por essa autoria. Como veremos no
decorrer das lições, sua autoridade apostólica foi questionada por um grupo de
judeus. Por isso, colocar seu nome na carta que escreveu foi uma forma de se
identificar com seus leitores e, os detalhes evidentes nela, mostram que Paulo
conhecia os irmãos gálatas. Sobre a data da composição desse documento, tem
sido comentado que a sua escrita se deu entre os anos 48 a 51 de nossa era.
3. O motivo da Carta. A Carta aos Gálatas foi escrita com o
objetivo de alertar aqueles crentes acerca do perigo que estavam correndo por
acrescentar à mensagem do Evangelho a prática da Lei de Moisés. Eles já haviam
crido nas Boas-Novas, e não era necessário agregar às suas vidas nenhum dos
elementos da lei que Deus dera aos hebreus por ocasião da sua saída do Egito.
Isso pode estar claro para nós, leitores do século XXI, mas para os crentes
gálatas, não. Devemos nos lembrar de que no primeiro século havia circulado
pelas igrejas pessoas que introduziam doutrinas diferentes das que eram
ensinadas pelos apóstolos, e que por isso as igrejas precisavam ser lembradas
do verdadeiro Evangelho e de suas práticas.
Deus usa o apóstolo Paulo, um homem de formação intelectual
farisaica, mas devidamente convertido a Jesus, para orientar os leitores de que
a Lei de Moisés havia sido dada por Deus aos hebreus, e não aos gentios. Como
veremos posteriormente, a própria igreja de Jerusalém já havia traçado
parâmetros para que o Evangelho fosse apresentado entre os gentios, sem a
necessidade da circuncisão (At 15.28,29). A partir desse ponto, trataremos a
palavra “circuncisão” como um sinônimo da guarda da Lei de Moisés.
II. A SAUDAÇÃO PAULINA
1. Paulo, apóstolo, não da parte dos homens (v.1). Paulo
inicia a Carta aos Gálatas com a sua identificação nominal. Ele era conhecido
pelos irmãos daquela região, e eles não teriam dúvida de quem era o autor da
carta. Ele também acrescenta um título ao seu nome: apóstolo. Diferente de um
título honorífico, ou que trouxesse a ideia de ser um obreiro diferenciado,
apóstolo era um “enviado”, alguém que havia sido escolhido para levar uma
mensagem. Era uma honra, mas igualmente uma grande responsabilidade, ser
portador das Boas-Novas.
Ele completa com mais uma sentença: “não da parte dos
homens”. Esse aspecto é importante, pois ele não teria escrito tais palavras se
a sua autoridade apostólica não estivesse sendo colocada em xeque por seus
acusadores, os judaizantes. Era necessário que ele mostrasse, o que ele faz, no
texto mais à frente, que a sua chamada vinha de Deus. Se ele não andou junto
com os apóstolos de Jerusalém, que autoridade teria para ser um apóstolo? Os
judaizantes criam que se Paulo não fora enviado por Jerusalém, então não teria
autoridade para ensinar, doutrinar ou falar de Jesus como quem foi comissionado
para tais ações. É verdade que Paulo não andou com os Doze por ocasião do
ministério terreno de Jesus, mas da mesma forma que os Doze, Paulo foi ensinado
pelo próprio Jesus, como ele descreve (Gl 1.12).
2. Da parte de Jesus e Deus Pai (v.1). Após ter se
apresentado como remetente da Carta, Paulo deixa claro a origem do seu
apostolado: Ele vinha da parte de Jesus, e de Deus Pai, que ressuscitou a Jesus
dentre os mortos. Em um único verso, ele destaca a atuação conjunta do Pai e do
Filho, e o milagre da ressurreição do Senhor. Foi o Jesus ressuscitado que
apareceu a Paulo quando ele se dirigia a Damasco, e sem essa ressurreição,
Paulo não teria sido salvo, não teria se tornado um discípulo e não teria sido
comissionado aos gentios.
Ele havia recebido a mensagem do Evangelho por revelação do
Senhor Jesus, e isso nos mostra que as Boas-Novas têm origem divina. Essas
Boas-Novas estavam em risco, e Paulo percebeu que os gálatas, mesmo sendo
crentes, precisavam ser novamente ensinados acerca do Evangelho. Essa Carta é
uma defesa do verdadeiro Evangelho para os gálatas, que já tinham experimentado
a salvação, mas que estavam caindo da graça (Gl 5.4).
3. Os irmãos que estão comigo (v.2). Paulo tem a humildade
de dizer que não está fazendo a obra de Deus sozinho. Mesmo não mencionando os
nomes de seus companheiros de ministério, ele mostra aos gálatas que fazemos
melhor a obra de Deus quando temos comunhão uns com os outros e podemos servir
ao Senhor em um grupo de pessoas. Como um corpo, podemos ser úteis com diversos
talentos.
4. Os destinatários. Os destinatários dessa Carta eram os
irmãos das “igrejas da Galácia” (Gl 1.2). Observe que esse documento não era
para uma única igreja, como foram as Cartas aos Romanos, aos Coríntios e aos
Efésios, cujos destinatários, como se entende, pertenciam a uma igreja
localizada em uma única região. Os gálatas pertenciam a um grupo de igrejas.
III. A MENSAGEM PARA OS NOSSOS DIAS
1. A importância da liberdade. A Carta aos Gálatas defende a
liberdade cristã. E que liberdade é essa? Liberdade de uma vida de santidade,
de comunhão com Deus e acesso livre a presença dEle. A certeza de que não
precisamos seguir as obras da Lei para sermos salvos, pois somos salvos pela fé
em Jesus. Os gálatas haviam recebido o Evangelho pela fé, mas estavam sendo
ensinados que a salvação dependia de uma série de observâncias dos costumes
judaicos, o que era uma afronta à graça de Deus.
2. Nossa salvação não depende de nossas obras. Nenhuma
prática que venhamos a fazer tem a capacidade de trazer a Salvação ofertada por
Deus em Jesus, ou o perdão dos pecados. A Carta aos Gálatas é um alerta contra
qualquer ensino ou pregação que tente complementar o sacrifício de Jesus com
obras feitas pelos homens. As obras, para o crente, são úteis para que Deus
possa ser glorificado pelos ímpios que, vendo as nossas boas obras, percebam
que elas são uma ação do Espírito em nós e que glorifiquem a Deus (Mt 5.16).
3. Os judaizantes. Paulo desejava mostrar, na Carta aos
Gálatas, que o sacrifício de Jesus foi único, perfeito e é suficiente para a
nossa salvação. Isso foi necessário porque, havia o grupo dos que “não andavam
bem e diretamente conforme a verdade do evangelho” (Gl 2.14) e que desejavam
impor os “costumes” dos judeus sobre os gentios. Costumes esses que nem mesmo o
apóstolo Pedro parecia observar.
CONCLUSÃO
Sempre teremos diante de nós o desafio de lembrar que a
nossa salvação é recebida pela fé, e que não precisamos seguir rituais de
outras culturas que se proponham a ser complementares à nossa salvação. Os
gálatas precisaram ser ensinados de que a salvação não está vinculada às obras
da Lei, pois o Evangelho é suficiente para nos salvar. A graça do Senhor é o
que basta para a nossa salvação.
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