“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (At 2.42).
Atos 2.37-47
INTRODUÇÃO
Por ser a Igreja-mãe, Jerusalém torna-se o modelo para as
demais igrejas que foram implantadas. É de Jerusalém que partem as decisões que
buscam, por exemplo, disciplinar e padronizar determinadas práticas cristãs. A
igreja de Jerusalém já nasce forte! Sendo de origem divina, cheia do Espírito
Santo e supervisionada pelos apóstolos, essa igreja é bem alicerçada. Isso fica
claro no ministério da Palavra, a quem os apóstolos se devotaram inteiramente e
ao exercício dos diversos dons que abundavam no seu meio. É, portanto, uma
igreja da Palavra e do Espírito. E mais — é uma igreja onde a observância das
ordenanças de Cristo é praticada na esfera do culto cristão. Assim, a igreja
cristã primitiva exibe marcas que se tornaram um padrão para todas as igrejas
em todas as épocas e lugares.
I. UMA IGREJA COM SÓLIDOS ALICERCES
1. Uma igreja com fundamento doutrinário. A igreja de
Jerusalém era uma igreja bem doutrinada. Lucas diz que, antes de ascender aos
céus, Cristo deu “mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que
escolhera” (At 1.2). Uma igreja genuinamente cristã reflete a prática e os
ensinos dos apóstolos. É exatamente isso o que o livro de Atos diz da primeira
igreja: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Uma igreja só
pode ser considerada genuinamente cristã quando ela consegue ensinar e doutrinar
seus membros de tal forma que eles passem a refletir o caráter de Cristo.
2. “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). A
expressão diz muito sobre o processo de discipulado da igreja de Jerusalém. Era
uma igreja bem doutrinada, e, portanto, bem discipulada. A palavra “doutrina”
traduz o termo grego didaché, que significa “ensinar” e “instruir”. Tem a ver,
portanto, com o discipulado cristão. O discípulo é alguém que consegue
reproduzir, isto é, levar adiante o que aprendeu de seu Mestre. Os apóstolos
aprenderam de Cristo; a igreja cristã primitiva aprendeu dos apóstolos e agora
vivia isso a fim de transmitir a outros o que aprendeu. A tragédia da igreja
acontece quando ela não consegue ser discipulada, nem tampouco discipular.
3. Uma igreja relacional e piedosa. A igreja de Jerusalém
perseverava na “comunhão” (At 2.42). A maioria dos intérpretes entende que a
palavra grega koinonia, traduzida aqui como “comunhão” é uma referência às
relações interpessoais dos primitivos cristãos. A primeira igreja era,
portanto, uma igreja relacional. Assim, perseverar na comunhão tem o sentido de
“se dedicar” à construção de bons relacionamentos. Tem a ver com o modo de vida
dos crentes. Sem o cultivo de relações interpessoais fortes, a igreja cai em um
mero ativismo. Há muita atividade, mas sem o calor humano que caracteriza a
verdadeira vida cristã.
A mesma igreja que perseverava na doutrina dos apóstolos e
na comunhão era a mesma igreja que vivia em oração (At 2.42). A igreja de
Jerusalém orava! Assim, Pedro e João foram ao templo na hora nona de oração (At
3.1); os apóstolos estabeleceram como prática dedicar-se à oração (At 6.4) e a
Igreja reunida na casa de Maria, mãe de Marcos, se dedicava à oração (At 12.5).
“A
DOUTRINA DOS APÓSTOLOS [...] COMUNHÃO [...] O PARTIR DO PÃO [...] ORAÇÕES. Hoje
em dia, muitas igrejas desejam seguir o modelo da igreja do Novo Testamento,
esperando vivenciar o mesmo poder, crescimento e eficácia que ela teve. Esta
passagem nos proporciona uma visão geral das características que permitiram que
a igreja do Novo Testamento vivenciasse o milagroso poder de Deus (v.43) e um
crescimento consistente (v.47). O que é admirável é que essas características
eram bastante simples e práticas. (1) A doutrina dos apóstolos (v.42a). Os
primeiros cristãos eram profundamente devotados à mensagem de Cristo. [...];
(2) Comunhão (gr. koinōnia; v.42b). Os seguidores de Deus na igreja primitiva
não somente eram dedicados ao seu relacionamento básico e predominante com
Deus, como também estavam comprometidos em construir relacionamentos abertos,
honestos e espiritualmente encorajadores com o povo de Deus [...]; (3) O partir
do pão (vv.42c,46). Esta expressão poderia se referir, simplesmente, às
refeições feitas nas casas, uns dos outros [...] (ou) à refeição do amor ágape
(veja 1Co 11.21, nota), ou à Ceia do Senhor (isto é, à comunhão) propriamente
dita. [...] (4) Oração (v.42d; cf. 1.14; 4.23-31). A oração era, claramente,
uma grande prioridade e uma parte vital da vida da igreja primitiva” (Bíblia de
Estudo Pentecostal — Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p.1932).
I. UMA IGREJA OBSERVADORA DOS SÍMBOLOS CRISTÃOS
1. O Batismo. Após o primeiro sermão do apóstolo Pedro na
igreja de Jerusalém, e como resposta a uma pergunta, ele disse ao povo:
“Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para
perdão dos pecados” (At 2.38). Naquela época, a primeira igreja batizava quem
se convertia. Ela sabia que o batismo era uma das ordenanças de Jesus e que ele
era um dos principais símbolos da fé cristã (Mc 16.16). O batismo era um dos
primeiros passos da fé cristã, um rito de entrada para a nova vida em Cristo.
Mas para ser batizado, a pessoa precisava ter se arrependido dos seus pecados e
crido em Jesus. Era preciso ter consciência do sentido desse símbolo de fé.
Assim, o batismo era um testemunho público de que a pessoa havia se convertido.
Por meio dele, os cristãos de Jerusalém mostravam ao mundo que sua vida agora
era diferente, que eles tinham uma nova vida em Cristo.
2. A Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor é a outra ordenança
dada por Jesus e que foi observada pela igreja de Jerusalém. “E perseveravam...
no partir do pão” (At 2.42). A maioria dos estudiosos concorda que esse texto é
uma referência à prática da Ceia do Senhor entre os primeiros cristãos. Donald
Gee, um dos principais mestres do pentecostalismo britânico, disse que, quando
tomada corretamente, a Ceia leva a Igreja ao próprio coração de sua fé; ao
próprio centro do Evangelho; ao objeto supremo do amor de Deus. Portanto, quão
abençoado é esse “partir do pão”! Parece provável que os primeiros cristãos,
combinando essa ordenança simples com a “festa do amor” de sua refeição comum,
lembravam assim a morte do Senhor “todos os dias” (At 2.42-46).
III. UMA IGREJA MODELO
1. Uma igreja reverente e cheia de dons. É dito da igreja de
Jerusalém: “Em cada alma havia temor” (At 2.43). A palavra grega traduzida como
“temor” é phóbos, que também significa “reverência, respeito pelo sagrado”.
Havia um forte sentimento da presença de Deus! Havia um clima da presença do
sagrado, do que é santo, o mesmo sentido que teve Moisés quando o Senhor o
mandou tirar os sapatos dos pés porque o lugar “é terra santa” (Êx 3.5).
Precisamos aprender com a primeira igreja! Não podemos perder o respeito pelo
sagrado.
Lucas destaca que “muitas maravilhas e sinais se faziam
pelos apóstolos” (At 2.43). “Sinais (gr. Téras) e maravilhas (gr. Sémeion)” são
as mesmas palavras usadas pelo apóstolo Paulo para se referir aos dons do
Espírito Santo que se manifestavam em suas ações missionárias (Rm 15.19). Os
dons espirituais ornamentavam a igreja cristã primitiva.
2. Uma igreja acolhedora. Dentre as muitas marcas de uma
igreja relevante, o acolhimento aparece como uma das suas principais. Uma
igreja, para se tornar relevante, necessariamente deve ser acolhedora. A igreja
de Jerusalém é um modelo de igreja acolhedora. Além de estarem juntos, o texto
bíblico diz que naquela igreja “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo
em comum” (At 2.44). Não é fácil partilhar, muito menos acolher. A nossa
tendência é nos fechar em nosso mundo e deixar de fora quem achamos ser
inconveniente. Numa igreja acolhedora, os membros se sentem acolhidos e parte
do grupo.
3. Uma igreja adoradora. A igreja de Jerusalém era também
uma igreja adoradora: “louvando a Deus” (At 2.47). “Louvando”, traduz o verbo
grego aineo. É o mesmo termo usado para se referir aos anjos e pastores que
louvavam a Deus por ocasião do nascimento de Jesus (Lc 2.13,20); é usado também
para descrever o paralítico que louvava a Deus depois que foi curado junto à
Porta Formosa do Templo (At 3.8). É, portanto, uma expressão de júbilo e de
gratidão. Louvar é muito mais que simplesmente “cantar”; é uma expressão de
rendição e total entrega! É o reconhecimento da grandeza de Deus e de seus
poderosos feitos.
“O
PROGRESSO SE REPETE. [...] Os primeiros discípulos — a maioria composta por
judeus — continuavam a adorar diariamente no templo (46). Isto era natural.
Posteriormente, a perseguição aos judeus expulsou-os do Templo, e também das
sinagogas. Eles também partiam o pão em casa. O texto grego também poderia ser
traduzido como ‘de casa em casa’. Não havia edifícios para igrejas no início, e
a maioria das reuniões de adoração era conduzida nas casas. Louvando a Deus e
caindo na graça de todo o povo (47) é uma combinação desejada na igreja de
todos os tempos e lugares. O Senhor estava acrescentando diariamente novas
pessoas ao número de crentes. Esta era uma igreja em crescimento. A última
frase, aqueles que se haviam de salvar, é uma tradução completamente injustificável.
Não existe aqui nenhuma indicação de predeterminação ou predestinação. O texto
grego diz claramente: ‘todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que
estavam sendo salvos.’ Isto simplesmente afirma que aqueles ‘que estavam sendo
salvos’ uniam-se ao crescente grupo de discípulos em Jerusalém” (Comentário
Bíblico Beacon — João e Atos. Volume 7. Rio de Janeiro: CPAD, 2024, p.225).
CONCLUSÃO
Vimos, nesta lição, algumas características que marcaram a
primeira igreja. Frequentemente, nos referimos a ela como a “Igreja Primitiva”.
Vemos como sendo uma igreja ideal, modelo para todas as outras. De fato, ela é
a igreja-mãe. Isso, contudo, não significa dizer que a igreja de Jerusalém não
tivesse problemas. Pelo contrário, veremos em outras lições, que havia alguns
bem desafiadores. Nada, contudo, que tire o seu brilho e nos impeça de nos
espelharmos nela.
IGREJA
DE JERUSALÉM — UM MODELO A SER SEGUIDO
Estimado(a)
professor(a), a paz do Senhor. A lição desta semana tem como finalidade
apresentar a igreja primitiva como modelo de fé e relacionamento cristão aos
irmãos da igreja atual. Ao observarmos o livro de Atos, identificamos vários
aspectos que revelam a face da igreja primitiva como uma igreja
doutrinariamente sólida, que perseverava nos ensinamentos introduzidos pelos
apóstolos, e na qual os seus membros desfrutavam de uma comunhão salutar; e,
não menos importante, oravam assiduamente (At 2.42). Dessa forma, o trabalho
realizado por esses irmãos resultava no avanço da pregação do Evangelho, mesmo
em meio às perseguições (2Ts 3.1-3).
Além de
ser uma igreja que gozava da manifestação abundante dos dons espirituais, bem
como da operação contínua de sinais, prodígios e maravilhas, havia uma
característica muito marcante que a tornava pujante. A igreja primitiva era uma
igreja “acolhedora”. Em linhas gerais, o termo acolhedor, de acordo com o
Dicionário Houaiss (2009), significa “oferecer ou obter refúgio, proteção ou
conforto físico, amparo; dar hospitalidade”. No contexto da igreja primitiva,
significava acolher os pecadores, oferecer a oportunidade de perdão e
reconciliação com Deus. Além disso, significava também que a igreja não fazia
acepção de pessoas, nem mesmo fomentava o preconceito seja qual fosse a
condição de pecado em que a pessoa estivesse (At 10.34,35; Rm 2.11); mas, pelo
poder regenerador do Espírito Santo, tornava cada pecador arrependido em um
discípulo de Cristo (Mt 28.19,20).
Aprendemos
com a igreja primitiva que devemos acolher o pecador e ensinar que Jesus cura,
salva, liberta, batiza no Espírito Santo e voltará para buscar Seus servos para
estarem para sempre com Ele. Nesse sentido, a Declaração de Fé das Assembleias
de Deus, documento que traz os fundamentos doutrinários de nossa denominação,
discorre que “entendemos que é responsabilidade da igreja a obra missionária. A
edificação é realizada por meio do ensino da Palavra nas reuniões da igreja,
como o culto de ensino, da escola bíblica dominical. A igreja também exerce o
ministério de socorro e misericórdia, que inclui o cuidado dos pobres e dos
necessitados, e não somente dos seus membros, mas também dos não membros.
Enquanto membros da igreja, somos o sal da terra, proporcionando sabor à vida e
evitando a putrefação da sociedade ao combatermos o pecado e a corrupção”
(2017, p.123). Que o compromisso de acolher os pecadores não seja furtado de
nossos corações. Jesus nos libertou e salvou para que, uma vez regenerados por
Seu Espírito, tenhamos o prazer de levar outras vidas a Ele. Uma igreja
acolhedora prioriza alcançar vidas para o Reino de Deus.
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