1 Samuel 16.1-13.
INTRODUÇÃO
Ao enumerarmos os principais estadistas da
história, ou os reis mais célebres, ou ainda os personagens bíblicos mais
admirados, provavelmente Davi fará parte da imensa maioria das listas. Sem
dúvida, temos no jovem vindo de Belém, uma das personalidades mais conhecidas
da humanidade.
Nessa primeira lição, falaremos sobre o
chamado de Davi, a soberania de Deus e a vocação divina para nossas vidas.
I. O CHAMADO DE DAVI
1. Tempos difíceis. Nos dias de
Davi, Israel passava por uma série de situações que despertava certa
preocupação. Em uma região bastante disputada por povos vizinhos, os hebreus
mantinham uma vigilância frequente contra os invasores. Essas disputas
territoriais eram constantes e motivadas pela busca de água, de pastagens, de
terras cultiváveis e por incompatibilidade religiosa e cultural. É necessário
enfatizar que muitos desses problemas vieram em decorrência de um constante
esquecimento do povo acerca do que Deus fizera por ele. O Senhor orientou os
israelitas sobre como deveriam buscá-lo e como deveriam ensinar às novas
gerações acerca dos livramentos recebidos e vitórias conquistadas (Dt 11.26-32;
Js 1.7-8).
O povo que saiu do Egito tinha um perfil
sofrido e pouco preparo para as batalhas. No deserto, Israel foi pastoreado e
conduzido pelo Senhor. A partir desse cuidado, o povo que estava prestes a
cruzar o Jordão era forte e reconhecido pela sua bravura e postura vitoriosa
(Js 2.8-14). No entanto, nos anos seguintes, os israelitas negligenciaram as
orientações divinas a ponto de se levantar uma geração que não conhecia ao
Senhor (Jz 2.10).
Tem início uma sequência lamentável de fatos
(que pode ser acompanhada ao longo do Livro de Juízes): sem Deus, o sofrimento
é inevitável; a força e orientação que vinha do Senhor já não é mais constante;
o povo cai nas mãos dos inimigos (os filisteus, por exemplo), o povo se
arrepende e clama, Deus manda juízes, a libertação é alcançada; o povo se
alegra, porém logo esquece e volta aos maus hábitos. E o ciclo se repete
algumas vezes.
2. Samuel: um profeta
em Israel. Samuel entra em cena envolto em uma história inspiradora.
Um verdadeiro presente de Deus, fruto de uma oração impressionante de Ana (1Sm
1.9-19). Cresceu servindo ao Senhor e, ao longo de sua vida, teve uma destacada
importância à frente do povo de Israel. O último líder do período dos juízes,
aos poucos foi sendo visto pelo povo como insuficiente. Com o passar do tempo,
os israelitas começaram a desejar um rei, nos moldes das nações ao seu redor. E
Saul foi escolhido (1Sm 8.20).
Ao contrário do que muitos pensam, Saul
também foi escolhido por Deus e ungido pelo profeta para essa grande missão.
Assim como foi com Davi, Deus escolhe os seus. Porém, não basta sermos
escolhidos, precisamos fielmente obedecer ao Senhor e estar sempre no centro da
sua vontade. Deus escolheu Saul, mas Saul aos poucos deixou de escolher e ouvir
Deus.
Assim como no tempo dos juízes, com o
esfriamento do coração de Saul, o povo também começou a sofrer, e as
consequências estavam tomando grandes proporções. Enfim, chegou o dia em que o
Senhor rejeitou Saul e ordenou a Samuel que fosse à casa do belemita (1Sm
16.1).
3. Deus chama Davi. O chamado de
Davi nos traz importantes oportunidades de aprendizado. Primeiramente, ele
atendeu a um propósito divino duplo: preservar o povo escolhido e a linhagem
real do Messias.
Deus fala claramente com o profeta Samuel e
ordena que ele vá até a casa de Jessé, o belemita, para ungir o novo rei (1Sm
16.1). Como veremos mais para frente, Saul estava muito distante dos propósitos
divinos. Já não ouvia mais o Senhor e estava envolto em uma sucessão de erros e
fracassos.
Samuel então, mesmo receoso de que Saul
descobrisse sobre sua missão em Belém, foi até à casa de Jessé. Ao chegar,
revela sua intenção e começa a buscar a quem deveria ungir conforme suas
próprias referências, alguém que pudesse se enquadrar nas características
desejadas de um rei. Por isso, o velho profeta procurava alguém apto aos olhos
humanos, mas o Senhor já havia escolhido alguém segundo o seu coração (At
13.22). Samuel esperava ungir o primeiro, mas Deus escolhera o último.
II. A SOBERANIA DE DEUS
E A VOCAÇÃO DIVINA
1. Deus é soberano. Um dos
princípios da vocação divina é a soberania de Deus. Ela consiste no total poder
e domínio de Deus sobre todas as coisas. Tudo que existe, desde as forças da
natureza e todos os seres vivos, estão subordinados a Deus e a Ele devem
obediência. Como servos de Deus, nos conforta saber que nada acontece sem que
haja a permissão divina. Confiemos nos Senhor, pois nada tem força ou poder
para frustrar os seus planos (Jó 42.2). Ele é soberano e todas as coisas foram
criadas conforme a sua permissão (Sl 33.10,11). É Deus que estabelece a forma
como o mundo funciona e também tem o poder para aplicar a sua justiça e
interferir em todas as coisas da forma que quiser. Algo que precisa ser bem
compreendido é a relação entre a soberania divina e o nosso livre-arbítrio.
Essa é uma condição permitida por Deus, ou seja, em acordo com a sua soberania.
Porém, destacamos que as nossas ações trazem consequências sobre nossas vidas
(Rm 2.6-8). Embora tenhamos o livre-arbítrio, destacamos que Deus já sabe tudo
o que acontecerá, por isso devemos sempre estar debaixo de sua orientação.
2. O que é vocação
divina? A busca pela vocação divina deve fazer parte das nossas
vidas. É Deus que nos escolhe, nos chama e nos direciona para que possamos
viver os seus propósitos no mundo criado por Ele.
A nossa vocação pode não ser nos moldes de
alguns personagens bíblicos como Abraão (Gn 12.1-3), Moisés (Êx 3.11-14), Davi
(Sl 78.70) e Jeremias (Jr 1.4-10). Talvez não sejamos ungidos por um velho
profeta, surpreendidos por uma sarça ardente, tenhamos nossos lábios tocados ou
ainda ouçamos uma ordem clara nos enviando para longe. Mas, uma coisa é certa:
Deus tem uma vocação para cada um de nós. Esse chamado pode acontecer em nossos
corações, de forma discreta, porém muito clara. Que as nossas ações para com a
nossa vocação estejam sempre de acordo com as diretrizes divinas e para que
possamos ser usados por Deus e assim, sermos canal de bênção na vida de muitos.
Ao analisarmos a história de Davi, aprendemos
que nem sempre Deus nos dá as informações completas acerca de uma vocação a ser
desenvolvida, no entanto, a seu tempo, os frutos serão percebidos se nos
permitirmos cumprir totalmente as orientações recebidas do Senhor.
3. Buscando a nossa
vocação. Quando atendemos ao chamado de Deus e aceitamos a vocação
divina, experimentamos uma profunda alegria e satisfação. Dessa forma, podemos
perceber que as nossas vidas estão nas mãos do nosso Amado Deus. A Palavra do
Senhor convida-nos a estar atentos à sua voz e prontamente dizermos “sim” ao
seu chamado. Também é importante frisar que a nossa vocação divina pode não ser
o “pregar para multidões”, “pastorear grandes igrejas” ou ainda “ser um famoso
ministro de louvor”. Salomão edificou o templo, mas quem assentou os tijolos?
Neemias reconstruiu os muros (Ne 2.17), mas quais eram as pessoas que estavam
ao seu lado? Busquemos, com sabedoria, a direção do Senhor para as nossas
vidas. Nossa vocação divina pode ser nas mais diversas áreas onde, dirigidos
pelo Espírito Santo, poderemos ser canais de bênção na vida de muitos. Vejamos
um exemplo no Novo Testamento. Tabita, também conhecida como Dorcas,
dedicava-se ao cuidado dos pobres de sua cidade, inclusive costurando túnicas e
vestidos para as viúvas necessitadas. Ela era uma seguidora de Jesus Cristo que
se dedicava com alegria atendendo (Mt 20.27), especialmente, as mulheres
desfavorecidas de sua sociedade (At 9.36-42). Ore com convicção para que o
Senhor revele qual a vocação divina para a sua vida e, sem medo, diga “sim” ao
seu chamado.
III. O SENHOR VÊ O CORAÇÃO
1. O que o homem vê? O ser humano tem uma
inclinação natural de julgar os seus semelhantes a partir daquilo que pode ser
percebido externamente. A aparência física, as palavras bem colocadas, um
gestual coerente com a ocasião, as roupas bem escolhidas, a eloquência na argumentação,
as causas defendidas, a seleção de fotos e a edição escolhidas para as redes
sociais, tudo é levado em conta na hora de atribuir o juízo de valor sobre
alguém que estamos conhecendo. Se alguém se destaca nesses critérios,
facilmente será admirado, desejado e seguido. O contrário também se aplica:
quantos são rejeitados e alvos de preconceito por conta de sua aparência? As
consequências desse comportamento são bem conhecidas. A aparência externa não
pode determinar o caráter da pessoa que a possui. Podemos, muitas vezes,
olhando para uma pessoa, fazer uma leitura de como achamos que está o coração
dela, mas dessa forma, provavelmente seremos induzidos ao erro.
As palavras bem escolhidas, o
porte físico ou os hábitos finos não conseguem atribuir a alguém o caráter, a
integridade e a fidelidade de uma pessoa que serve ao Senhor. As qualidades
externas são, por definição, superficiais. O que realmente determina se uma
pessoa é ou não é alguém que busca estar no centro da vontade do Senhor são as
qualidades espirituais que trazemos em nossos corações. Lembremos sempre: do
nosso coração procedem as saídas da vida (Pv 4.23). O nosso exterior é reflexo
do interior, e não o contrário.
2. O que Deus vê? Deus nos conhece por
completo: nosso caráter, nossas intenções, nossa visão de mundo e a forma como
nos dedicamos a buscar intimidade com Ele. Tanto o profeta quanto o pai do
jovem percebiam e viam as coisas com limitações (1Sm 16.7). No entanto, Deus
tinha planos surpreendentes para aquela ocasião e um jovem pastor de ovelhas
seria ungido como o novo rei de Israel. Deus buscava um homem segundo o seu
coração (1Sm 13.14). A escolha do Senhor foi a de um jovem imperfeito, mas
fiel. Davi não se destacava pelo porte físico. Era bem jovem, ainda em formação
e estava muito aquém da forma física dos soldados de Saul. Mas o coração de
Davi agradava ao Senhor.
Nós não somos capazes de ver
como o Senhor vê, e assim como Samuel, somos limitados. Por isso mesmo, devemos
confiar em Deus para obter o discernimento correto que vem do alto. Devemos
confiar no Senhor sabendo que quando Deus olha para os nossos corações, Ele
consegue ver a nossa fidelidade, os nossos valores e as nossas intenções.
3. Como somos vistos? Somos sempre vistos por
Deus. O texto sagrado diz que os olhos do Senhor estão continuamente passando
sobre a terra para fortalecer aqueles que tem o coração voltado para Ele (2Cr
16.9). Também aprendemos que o Senhor examina nossos corações e nos conhece
profundamente. Aos que seguem a Deus, essas são duas verdades maravilhosas no
cumprimento de sua vontade: somos cuidados, fortalecidos e conhecidos pelo
nosso Senhor. Também somos vistos pelas pessoas que encontramos no nosso dia a
dia. Quando elas nos veem, conseguem ver um seguidor de Jesus? Elas sabem que
quando estamos presentes, somos canal das bênçãos do Senhor? É importante
termos em mente que o nosso coração deve irradiar a presença divina em nossas
vidas refletindo em nossos atos, palavras e pensamentos. Que possamos, com as
nossas vidas, anunciar o amor de Deus a todas as pessoas e assim cumprir o
maior propósito de nossas vidas.
CONCLUSÃO
Chamado para uma grande missão. Davi foi
escolhido por Deus e ungido rei para preservar o povo escolhido e a linhagem
real do Messias.
Compreendemos que a soberania de Deus e a
vocação divina são conceitos que se relacionam na vida daquele que busca seguir
pelo bom caminho e ser canal da bênção do Senhor na sociedade. Vamos
alegremente obedecer ao Senhor e colocar em prática a vocação divina delegada a
cada um de nós, buscando para nossas vidas as posturas desejadas em alguém
segundo o coração de Deus.
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