A autenticidade da fé cristã é a chave para uma vida plena em Deus
I. A CARTA DE TIAGO
1.1 A autoria.
A Carta de Tiago é atribuída a Tiago, o Justo, irmão de Jesus e líder da igreja em Jerusalém (Mt 13.55).
Tiago não creu em Jesus durante o ministério público do Senhor (Jo 7.5). Porém, após abraçar a fé cristã, provavelmente quando Jesus lhe apareceu após a ressurreição (1Co 15.7) tornou-se uma liderança respeitada na igreja do primeiro século.
Sua Liderança é reconhecida por diversos estudiosos e mencionada em outros textos bíblicos, como no livro de Atos (At 12.17; 1513; 21.18).
Tiago, o meio-irmão do Senhor (Mt 13.55; Gl 1.19). Quase certamente é o autor. Era bastante
conhecido, porém modesto, uma vez que não menciona seu parentesco com Cristo.
Foi ele quem presidiu o concílio de Jerusalém e passou os últimos dias de vida nessa cidade. Era conhecido como um cristão judeu zeloso, de estilo de vida extremamente austero. Em resumo, é lembrado pela história (Josefo) e pela tradição da Igreja como cristão qualificado para escrever esta epístola.
Tiago escreveu com a autoridade de alguém que havia visto pessoalmente o Cristo ressurreto (1Co 15.7), foi reconhecido como um parceiro dos apóstolos (Gl 1.19) e serviu como líder na igreja de Jerusalém.
A tradição atribui a ele dois adjetivos: Justo e Joelhos de Camelo. Ele foi nominado de
Tiago, o justo devido a sua devoção e piedade inquestionáveis. O chamaram de joelhos de Camelo devido a sua intensa vida de oração. Dizem que Tiago orava tanto que seus joelhos criaram uma crosta grossa, dai surge tal caracterização.
1.2 O contexto histórico e a data.
A LIÇÃO DIZ: Tiago escreveu a Carta em um contexto de perseguição aos cristãos. A citação “às doze tribos dispersas”, refere-se aos crentes de origem judaica. Algumas palavras utilizadas por Tiago demonstram que os destinatários estavam familiarizados com o judaísmo, como por exemplo: referência à reunião em uma sinagoga; a Abraão como pai e as semelhanças com a literatura sapiencial judaica, em especial com o livro de Provérbios. A Bíblia de Estudo Pentecostal data a produção da Carta de Tiago entre os anos 45 e 49 d.C., aproximadamente. Josefo afirma que Tiago foi morto em 62 d.C., de modo que a carta é anterior a essa data. Tendo em vista a ausência de qualquer menção às decisões tomadas no concílio de Jerusalém (48 ou 49 d.C.) presidido por Tiago (At 15), costuma-se datá-la entre 45 e 48 d.C.
Os destinatários dessa carta eram cristãos judeus que haviam sido dispersados (1.1), possivelmente em consequência do martírio de Estêvão (At 7.31-34 d.C.); porém, o mais provável é que a causa da dispersão tenha sido a perseguição sob o governo de Herodes Agripa I (At 12; aproximadamente em 44 d.C.). O autor refere-se ao seu público como “irmãos” por quinze vezes (1.2,16,19; 2.1,5,14; 3.1,10,12; 4.11; 5.7,9-10,12,19), o que era uma forma comum entre os judeus do século primeiro de se dirigirem uns aos outros. Não é de surpreender, então, que Tiago tenha um conteúdo judaico. Por exemplo, a palavra grega traduzida por “reunião” (2.2) é a palavra usada para “sinagoga”. Além disso, Tiago contém mais de quarenta referências ao AT (e mais de vinte ao Sermão da Montanha, Mt 5—7).
“Às doze tribos que andam dispersas” (Tg 1.1). Há muito a estrutura política de Israel perdera a configuração de divisão em tribos. Assim, em o Novo Testamento, a expressão “doze tribos” é um recurso linguístico que faz alusão, de forma figurativa, à nação inteira de Israel (Mt 19.28; At 26.7; Ap 21.12). Todavia, ao usar a fórmula “doze tribos”, na verdade, Tiago refere-se aos cristãos dispersos na Palestina e variadas igrejas estabelecidas em outras regiões, isto é, todo o povo de Deus espalhado pelo mundo.
1.3 Estilo e estrutura.
A LIÇÃO DIZ: O estilo da Carta é direto e prático, refletindo a personalidade de Tiago como um
líder pastoral preocupado com a vida cotidiana dos crentes. Sua estrutura inclui conselhos práticos,
exortações e ensinamentos morais, tornando-a bastante acessível e aplicável.
Tiago foi identificado, variavelmente, como uma carta, um escrito de sabedoria e uma homilia. É
provável que seja uma combinação dos três, pois um único gênero parece não ser suficiente. Para uma
carta, há poucos toques de personalidade e tem sido sempre vista como uma “carta geral”, porque não
está associada a um conjunto específico de igrejas. O tom de sabedoria é muito aparente, mas poucos
gostariam de rotulá-lo como um escrito de sabedoria ao nível de Provérbios; os temas de sabedoria,
em grande parte, são derivados de Jesus e seus ensinamentos. E, finalmente, enquanto contém a
parênese ou a exortação de uma homilia, ele não deve ser identificado como apenas uma homilia.
Quanto a estrutura, uma abordagem tópica vê os temas-chave da carta conjugados e unidos de
modo a criar uma exortação ética unificada. Cada tópico desenvolve um tema, como as provações
(1.3–18), a conduta adequada (1.19–27), a discriminação (2.1–13), a fé sem obras (2.14–26), a
língua (3.1–12), a sabedoria (3.13–18), o conflito (4.1–12), riqueza (4.13–5.6) e paciência (5.7–11).
Esta é a abordagem adotada pela maioria nos dias de hoje.
II. PROPÓSITO E ATUALIDADE DA CARTA DE TIAGO
2.1 Propósito da Carta.
A LIÇÃO DIZ: O principal propósito é incentivar os cristãos a amadurecerem na fé, enfrentando as
provações com alegria, sabendo que a prova da fé produz a paciência (Tg 1.2-4). Esse chamado ao
crescimento espiritual é central em todo o texto. O alvo de Tiago é que os crentes vivam a sua fé de
uma maneira sólida e demonstrem a verdadeira maturidade que a fé em Jesus Cristo pode produzir.
Vários subpropósitos podem ser identificados na epístola, embora não sigam uma ordem “lógica”:
• Encorajar: Tiago oferece consolo aos leitores que passavam por provações (1.2; 5.7) e estavam
em condição humilde (1.9).
Advertir: Admoesta os ricos contra a ideia equivocada de que riquezas eram sinal de bênção
divina (1.10), condenando abusos resultantes dessa noção (5.1). Alerta ainda sobre o
favoritismo aos ricos em detrimento dos pobres (2.1).
• Exortar: Há uma forte ênfase prática com muitos imperativos (um a cada dois versículos). Tiago
pede que os leitores sejam praticantes da Palavra (1.22), ensinando que a fé sem obras é morta
(2.14, 26). Obras de justiça devem refletir a sabedoria celestial (3.13). Tiago também alerta sobre
o controle da língua como marca de maturidade espiritual (1.26; 3.2), pois havia contendas e
maledicência (4.1, 11).
• Ensinar: Tiago corrige a falsa ideia de uma fé limitada a palavras vazias ou meras declarações
verbais (2.19, 15-16). Ele reafirma que:
a. A fé viva deve ser acompanhada de boas obras;
b. Eles estão sob a lei de Cristo (Gl 6.2);
c. Obras de justiça refletem o caráter de Deus.
2.2 Aplicação prática.
A LIÇÃO DIZ: Os ensinamentos de Tiago são extremamente práticos, abordando questões como:
o controle da língua, a pureza moral e a justiça social. Esses temas continuam sendo relevantes em
nossa vida diária, demonstrando a atualidade da Carta. Para um bom aproveitamento do estudo da
Carta de Tiago, é importante pensar em como podemos ajudar as pessoas (e a nós) a serem
praticantes da Palavra, e não apenas ouvintes (v. 22).
A Carta de Tiago é amplamente reconhecida como um dos livros mais práticos do Novo Testamento,
pois seus ensinamentos têm aplicação direta na vida cotidiana dos cristãos. Tiago não se limita a
doutrinas ou teorias abstratas; ele foca em ações concretas que demonstram a autenticidade da fé.
Em alguns sentidos, é a carta mais autoritária do NT, pois contém mais instruções do que todos os
outros escritos. Encontramos, no curto espaço de 108 versículos, nada menos que 54 imperativos.
2.3 Convite à autenticidade.
A LIÇÃO DIZ: O que é autenticidade? Autenticidade é a prática de ser verdadeiro consigo mesmo e
com os outros, mantendo a coerência entre crenças, valores e ações. É uma qualidade que promove
a integridade pessoal, relacionamentos saudáveis e uma vida plena em Cristo. Autenticidade na vida
espiritual fala sobre praticar a fé de maneira que realmente possa “ressoar” com a crença em Cristo, e
não apenas seguir rituais ou tradições por obrigação. Tiago faz um forte convite para que os cristãos
sejam autênticos em sua fé, vivendo de acordo com os ensinamentos de Cristo.
Entender essa definição, isto é, como o autor usa a expressão “autenticidade” é uma questão chave
para a compreensão de todo o trimestre.
Resumindo, a autenticidade, segundo Tiago, é:
• Verdade e coerência em todas as áreas da vida;
• Uma fé viva e prática, expressa por meio de ações concretas;
III. A IMPORTÂNCIA DA CARTA
3.1 - Os destinatários.
A LIÇÃO DIZ: Carta é direcionada às “doze tribos dispersas entre as nações” (Tg 1.1). Estudiosos
colocam o período da escrita da Carta como após os acontecimentos registrados em Atos 8, que
causou a morte de Estêvão e Levou à dispersão dos cristãos. Embora ela tenha sido escrita para os
primeiros judeus convertidos, seu conteúdo é útil para todos os crentes em Cristo, em todas as épocas.
Os Leitores da Carta estavam enfrentando um ambiente hostil à fé e isso longe do seu “lar”. Como
esses primeiros cristãos, nós também somos peregrinos e forasteiros neste mundo.
Como já destacamos em um subponto anterior, o contexto dos destinatários era de perseguição,
porém há a possibilidade de Atos 8 ou Atos 12.
Por que Tiago escreveu esta carta? Para resolver alguns problemas:
• Eles estavam passando por duras provações;
• Eles estavam sendo tentados a pecar;
Alguns crentes estavam sendo humilhados pelos ricos, enquanto outros estavam sendo
roubados pelos ricos;
• Alguns membros da igreja estavam buscando posições de liderança;
• Alguns crentes estavam falhando em viver o que pregavam;
• Outros crentes estavam vivendo de forma mundana;
• Outros não conseguiam dominar a língua;
• Outros estavam se afastando do Senhor;
• Havia crentes que estavam vivendo em guerra uns contra os outros.
3.2 Relevância da Carta para a Igreja Primitiva.
A LIÇÃO DIZ: A Carta de Tiago desempenhou um papel importante na formação da ética e da
prática da Igreja do primeiro século. Uma das contribuições mais significativas de Tiago é a sua
discussão sobre a relação entre fé e obras. Ele afirma que a fé sem obras é morta (Tg 2.26). Esta
ênfase na necessidade de demonstrar a fé por meio de ações era crucial para uma Igreja que buscava
estabelecera credibilidade e a autenticidade da sua mensagem em um ambiente, muitas vezes, hostil
e cético.
Tiago não aparece nas primeiras listas de livros canônicos, como o Cânon Muratori, do século 2o̱
d.C. Eusébio de Cesareia (c. 260–340 d.C.) incluiu Tiago entre os livros que chamou de antilegomena,
numa lista que apresentou em sua História eclesiástica (III, 25). Esses livros eram questionados quanto
à canonicidade por razões diferentes. Os outros eram Hebreus, 2Pedro, 2 e 3 João, Judas e
Apocalipse. Tiago era questionado pelo fato de seu autor não se identificar como apóstolo e pela
aparente contradição da doutrina da justificação pela fé. A Igreja Oriental, desde cedo, associou o livro
a Tiago, irmão de Jesus, e assim aceitou sua apostolicidade e canonicidade. Já a Igreja Ocidental,
somente no século 4o̱, debaixo da influência de Pais da Igreja como Jerônimo e Agostinho, reconheceu
sua divina procedência e lugar no cânon. A partir daí, Tiago ocupa lugar no cânon.
A Igreja do primeiro século enfrentava um ambiente hostil e cético. Havia a necessidade urgente de
que a mensagem cristã fosse respaldada por vidas transformadas. Tiago ensina que os cristãos devem
ser praticantes da Palavra, e não apenas ouvintes (Tiago 1.22). Isso significa que a fé professada em
Cristo deve ser visível por meio de:
Boas obras (Tiago 2.14-18);
• Tratamento igualitário entre ricos e pobres (Tiago 2.1-9);
• Pureza moral e controle da língua (Tiago 3.2-12).
A contribuição de Tiago para a Igreja primitiva foi crucial ao estabelecer que a fé autêntica se manifesta
por meio de obras. Esse ensino ajudou a Igreja a:
• Ser relevante e visível no mundo;
• Construir credibilidade em um ambiente desafiador;
• Demonstrar, por meio de ações concretas, que sua mensagem era genuína e transformadora.
3.3 A sua contemporaneidade.
A LIÇÃO DIZ: Suas admoestações oferecem orientações valiosas para os cristãos contemporâneos.
A ênfase de Tiago, na autenticidade e na coerência entre fé e obras, desafia os crentes a viverem de maneira que reflitam verdadeiramente os ensinamentos de Jesus.
A Carta de Tiago continua extremamente relevante em nosso tempo, pois aborda questões que permanecem presentes na Igreja contemporânea. Assim como os cristãos do primeiro século, nós enfrentamos desafios semelhantes: a falta de autenticidade na fé, o distanciamento entre crença e prática, e a necessidade urgente de coerência cristã.
CONCLUSÃO
Como em toda a Escritura Sagrada, a Epístola de Tiago é um farol acesso e permanentemente atual. Ela nos alerta contra a mediocridade da vida supostamente cristã e nos exorta a fazer das Escrituras o nosso pão diário. Jesus Cristo sempre foi zeloso pelo bem estar do seu rebanho (Jo 10.10). Em todas as épocas Ele é o bom pastor que cuida das suas ovelhas (Jo 10.11). É do interesse do Mestre que os discípulos vivam em harmonia e amor mútuo, afim de não trazerem escândalo aos de dentro e, muito menos, aos de fora (1Co 10.32). E não nos esqueçamos: A religião pura e imaculada é a fé que se mostra através de nossas práticas e obras..
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